Uma carta escrita à mão?

Abrir a caixa de correspondência e entre muitos panfletos, contas e avisos descobrir uma pérola de anos passados. Ah, o coração palpita forte, a emoção volta, o passado se desenha como uma imagem holográfica dentro de uma pequena box. Lá está ela, o papel é novo, o envelope é novo, o texto é novo mas parece que sublinhado no novo tem uma camada de bolor, uma tonelada de naftalina e uma infinidade de tempo. Mas não. É uma carta escrita à mão, em um envelope comum de tarjas amarelas tipo correio aéreo par avion. Nenhuma tecla pressionada, nenhum negrito ou itálico ou sublinhado automático. Nada de CTRL+ C ou  CTRL+ V. Cores? Apenas quatro disponíveis (azul, preta, vermelha e verde),  mas quase sempre usando a esferográfica azul que se tornou sinônimo de caneta. Imagens inclusas para exibir? Necas de pitibiribas. Uma foto ou outra em preto e branco engordava o envelope, encarecia o pacote, aumentava a ansiedade por abri-lo.

 


Há quanto tempo você não recebe uma dessas? Há quanto tempo você não escreve uma dessas? Há quanto tempo você não troca um e-mail por uma cartinha? E um emoticon por palavras escritas desenhadas pela caligrafia borrada ou desenhada com pingos nos "i"s, um coraçãozinho, um venho por meio desta? É, em tempos corridos e de internet, e-mails, sms e mms, tudo indica que estamos aos poucos aposentando a velha e útil cartinha escrita à mão, a necessária e prática correspondência dos tempos de Cabral e seguintes.


Um trecho da primeira carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal na época do descobrimento (imagem e trecho da carta retirado do  Epopéia do Descobrimento)

"...Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terraa Terra da Vera Cruz...
...Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha"

E assim o tempo passou e há mais de  150 anos a transmissão de dados passou a ser feito através de cabos pelas redes de telégrafos e chegamos  ao telefone com a conversa ao pé do ouvido processada muito rapidamente graças aos cabos óticos.




E assim caminha a humanidade. O que ontem era novidade, hoje nos surpreendemos quando vemos uma carta escrita à mão perdida entre panfletos e outros tipos de comunicação multimídia. As comunicações sonoras como o telefone, rádio e podcasts aos poucos suprimem a escrita tipo cartas, revistas, jornais e diários. É mais cômodo enviar um sms (texto de mensagem curto - nem sempre), ou um mms (mensagem com arquivo incluído) ao invés de usar nossas habilidades gramaticais num pedaço de papel machê. DOBRAR>COLOCAR NO ENVELOPE>FECHAR>COLAR>IR AOS CORREIOS>SELAR>FILA>PAGAMENTO>ENVIO>DEMORA>ERRO DE ENTREGA >RETORNO>UFAAA... ...Melhor usar uma rede social?